Em uma fala firme, sem embargar a voz, a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira que a votação final do processo de impeachment é uma “eleição indireta” pela qual 61 senadores substituem a vontade de 54 milhões de votos. Em sua manifestação, dada poucas horas após a decisão do Senado, por cerca de 15 minutos, no salão de mármore da entrada do Palácio da Alvorada, Dilma disse que vai recorrer em todas as instâncias. E pediu aos seus aliados que não desistam da luta, porque haverá contra o novo governo “a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer”.
Dilma fez sua fala cercada de pelo menos 50 aliados, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PT, Rui Falcão, o advogado de defesa, José Eduardo Cardozo, ex-ministros, deputados e senadores que a defenderam no Congresso. Logo depois, ela entrou para a biblioteca do Alvorada para confraternizar, tirar fotos e gravar vídeos com os aliados.
“Hoje o Senado tomou uma decisão que entra para a história das grandes injustiças, os senadores escolheram rasgar a Constituição”, afirmou Dilma, em uma fala que foi escrita a várias mãos com o ex-presidente Lula, Rui Falcão, e José Eduardo Cardozo.
Segundo Dilma, cassaram o mandato de uma presidente “inocente, que não cometeu crime de responsabilidade”. Ela disse que os políticos derrotados nas últimas eleições se uniram para ascender ao poder não como ela e Lula fizeram, pelo “voto direto”. “Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado”
Dilma relatou que é o “segundo golpe de Estado” que enfrenta na vida. Disse que o primeiro foi o “golpe militar”, que a atingiu quando era jovem, e o segundo, agora, é “parlamentar”, desfechado por uma “farsa jurídica”.
A presidente afastada disse que a derrubaram “sem justificativa constitucional”, e que o “golpe” é contra ela, o PT, e contra todos que “lutam pelos direitos em todas as acepções”.
Ela classificou o impeachment como um “golpe misógino, homofóbico, racista, e uma imposição da cultura da intolerância”.
Ela disse que a política progressista que ela representa voltará ao poder, seja por meio dela própria, seja por seus representantes. “Não voltaremos apenas para satisfazer nossos desejos ou vaidades, voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano”.
Ela pediu união de todos os partidos e movimentos sociais que representam os mesmos ideias. “Espero que possamos nos unir contra a agenda conservadora e pelo restabelecimento pleno da democracia”.
Ela disse que deixa o cargo assim como entrou, sem ter “incorrido em ato ilícito, sem ter traído meus compromissos”. Citou Darcy Ribeiro: “não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores, a história será implacável com eles”.
“Não direi adeus a vocês, posso dizer até daqui a pouco, ou eu ou outros assumirão este processo. A partir de agora, lutarei incansavelmente para continuar a construir um Brasil melhor”, concluiu.